domingo, 16 de maio de 2010

A chave que guarda meu lápis sem cor

Tomou a tarde fria para si. Para ler e escrever. Mas era sem inspirarão. Ela queria escrever e se perdeu em suas próprias palavras. Tinha uma chave que a levaria para a Terra do nunca....

Assim dou início ao fluido que chegou após abrir a porta.

-Tu conhece a Terra do nunca?
-Neverland? Casa do falecido Michael ou a do Peter Pan?
-Não não
-Então não conheço.O que é isso?
-Ela é uma passagem escura para outro lado
-Passagem escura para outro lado?
-Para um mundo que existe e não existe, lá não há nomes os personagens são inventados mais não identificados. As vezes vou...
-Tu tá lá agora?
-Não
-Isso por acaso é do livro lá?
-Não. Quer conhecer?
-Quero. Vai me levar pra lá?
-Hummm. Só não conte pra ninguém onde fica...
-Ok
-Se não ele pode sumir de vez, por ganhar nomes
-Mas o nome não é Terra do nunca?
-Sim, mas as pessoas gostam de falar demais... Vou pegar a chave!
-Ok
-Preparado?
-Sim

(link)

-Welcome!
-Por acaso é um daqueles sons infinitos? Vou dar uma espiada.
-Oras. É a Terra do nunca! Aqui tu pode ver o que quiser. E ser o quiser.
-Eu acho que quero ver você
-Eu to aqui
-O que tu ta vendo?
-Eu to vendo um parque num dia frio com um sol fraco de OUTONO
e tem uns crianças por lá... Eu to sentada num balanço me embalando
-Eu tou vendo um banquinho de madeira, no meio dum gramado. E não tem nada ao redor... só o banquinho embaixo de uma árvore bem pequena.
-Eu to vendo ele do balanço
-Acho que tou sentado nele, ou tou olhando pra ele. Será que posso te ver também?
-Eu to com um papel na mão e um lápis colorido. Eu te vejo
-Então eu te vejo também.
-Tu ta todo de preto com a tua mantinha
-O que tu tá escrevendo?
-Nada aconteceu, nada fluiu ainda.... Tu ta sorrindo de longe
-Faça um desenho então.
-Tu tem borracha para eu apagar o desenho
-Estou sorrindo porque tu parece feliz no teu balanço, parece sem preocupações. Tu quer apagar o desenho?
-É o que tu vee de longe...Caso precisar vou até teu banco
-De repente chegando mais perto eu veja outra coisa. Pode deixar que eu vou.
-Estou desenhando
-Estou andando
-As crianças tão rindo e jogando bola. Tento ver o que está desenhando. Você tem certeza do que está desenhando? O papel parece borrado. Você faz só silêncio... eu estou com medo. Eu olho pro seu rosto, o rosto que aprendi a gostar tanto. E fico me perguntando o que se passa por trás dos teus olhos. Sento na sua frente e fico em silêncio, observando... Esperando.
-Meu lápis não é mágico...



Ele não colorio meu mundo!
-Vejo flores, vejo nuvens, vejo montanhas, vejo o meu longo gramado, vejo uma borboleta.
-O centeio, as flores, as torres, o casulo, e o céu a energia violeta
-Não tenho a melhor interpretação da história.
-Saiu da Terra do nunca?
-Não
-Parece estar vindo uma neblina
-Vieram pensamentos à cabeça, desculpa o deslise.
-As pessoas estão desaparecendo...
-Eu ainda estou ali. E você também. Eu chego perto. Sento ao teu lado. Você não tá sozinha.
-Pedi pra ti desenhar no verso do único papel que tenho. Teu mundo....

Já escuto os rabiscos preenchendo o papel.


-Estou olhando para um chão verde tomado de cinza aguardando. Teu mundo? ou é o que há atrás das minhas montanhas?
-Existem flores, mas existem espinhos, existem montanhas, caminhos tortuosos, mas existem planícies, não existe cor pois quero estar no teu mundo, o qual não colores. E principalmente, não há apenas paisagem, existem pessoas, aquelas que interessam e que nos ajudam a viver nisso. Talvez não o meu mundo, talvez um outro lado do teu que tento criar para mim e para ti.
-Os passáros cantam por ali....
-E a neblina já se desfaz.
-Agora balanço mais rápido....
-O balanço também tem um assento para mim.
-Tu ta no balanço ao lado
-Tento assumir teu ritmo.
-Estou balançando bem alto
-Eu te encontro no alto e olho pra ti. O tempo parece que não nos leva abaixo.
-Eu aponto pro longe
-Aponta para onde? O que vejo?
-Um sol e uma montanha de gelo
-Ele não queima meus olhos.
-Ele ta indo embora, se escondendo atras dela
-Como o gelo resiste?
-Na montanha de gelo mora um sábio. Pergunte a ele!
-Quer ir comigo? Podemos encarar a noite que chega juntos.
-Ele não estara lá quando chegarmos, pois a noite chega rápido
-Então não temos como encontra-lo?
-É difícil de encontrar ele
-O difícil ainda é possível.
-MAS ele estara aguardando tua visita. Ele tem um presente pra te dar...
-E tu vem comigo?
-As borboletas te levaram até lá
-E tu ficará me esperando? Acho que não quero ir sem você.
-Posso mostrar o caminho.... Tu pode ficar com medo ou se machucar, o caminho não é fácil
-Valerá a pena te deixar sozinha, passar por medo e dor, por tal recompensa?
-O sábio te dara uma caixinha
-Você sabe o que há na caixinha?
-A resposta esta lá. Só não deixe ela desaparecer. Certas voam
-É um caminho que tenho que encarar sozinho, através do medo, da dor e das longas distâncias, para saber pq o gelo não derrete e o que há em uma caixa?
-Não te preocupe, tu irá com um casulo protetor
-Qual o nome desse casulo?
-Não tem nome, mas tem cor: violeta
-Tu exerga meu desenho no teu verso?
-Enxergo
-É o meu mapa?
-As borboletas te guiaram
-Então eu irei. E voltarei pra ti. Não te deixarei sozinha no balanço, nunca enquanto desejares minha presença.
-Só tenha cuidado para não passar da montanha!
-Ela parece fácil de identificar vista daqui.
-O centeio é imenso até as montanhas
-Então basta-me seguir sempre em frente. E para ti trarei um buquê de centeio, que nem o frio do inverno, nem o tempo apodrecem.
-O Sábio tem os cabelos e a barba grande de algodão e vestes laranjas
-Não deve ser difícil de reconhece-lo. Como o localizo, quando estiver sob o frio da montanha?
-Tem uma ponte imensa até a entrada da montanha maior de gelo. A hora que entrar tu vai ver uma luz branca seguida de uma rosa, e econtrara o sábio de costas com a tua caixinha. Depois me digas que cores eram a tua caixa e a fita, e é claro o que havia dentro dela.
-Então não demorarei. Desço do balanço e aguardo para a despedida. O caminho será longo, mas estarei de volta. Quero dar-lhe um abraço, talvez mais, talvez estivesse se segurando para não dar-lhe o coração.
-Lhe dou um abraço forte e assim te vejo dentro do casulo violeta, agora. Te cuida!
-Sinto o calor do abraço, a respiração forte de um sentimento que não conseguia compreender. Viro-me em direção à estrada e ao campo de centeio que fora os caminhos até o horizonte. Viro para trás umas três vezes antes de não conseguir ver mais a garota do balanço.
-Leve o desenho em teu bolso para te dar força
-O desenho, apertado dentro de minha mão fechada, é colocado em meu bolso. E sigo meu caminho. Ela sabe que voltarei.
-E eu continuo a me balançar...

Ela sorriu de longe
Ele sorriu também


Seus olhos se encontraram e não se viram mais, ambos desapareciam nos horizontes um do outro. Mas lembraram do último brilho visto. A névoa voltou e tudo foi desaparecendo. O dia estava prestes a acabar e ele precisava se apressar. Nada mais se via. Ele só via centeio. E se esforçava para seguir sempre em frente.

-Aquele foi o começo... o fim do primeiro momento.

(Lembrando que ela tem o lápis mas ele a borracha)

2 comentários:

  1. ótimo texto, grande mas bom de ler.
    gostei daqui.
    Maurizio

    ResponderExcluir
  2. Sentados, contemplando o horizonte, duas incógnitas em um mundo sem nomes.

    A tarde parecia não ter fim...
    E o garoto que tentava parecer homem, segurava-se, pois sabia que já tinha dona para si e tinha medo de entregar-se.

    Mas na estrada ele caiu, para longe dela, mas para mais perto dos dois...


    Outro sábio outrora me disse, por coincidência, em uma tarde de domingo em frente ao computador, me mostrava versos e metáforas:

    "Longe é o lugar onde a gente pode viver de verdade."

    Tal sábia pessoa nunca se referiu a esse caso ou à minha pessoa quando fez a citação, mas considero-a adequada à ocasião.

    - Pois estar perto não é físico, verdade.
    - ...

    ResponderExcluir